sexta-feira, 25 de setembro de 2009

à 10 anos


in 1999 - first international meeting in Portugal - http://www.graffiti.org/figm/

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

GAU premiada em congresso internacional

A iniciativa GAU foi premiada em Barcelona.

O prémio Prémio Ignasi de Lecea atribuido pelo PAUDO-Public Art and Urban Design Observatory, no contexto do VI Waterfronts of Art International Conference, organizada pela Universidade de Barcelona.

ver mais: http://www.cm-lisboa.pt/?idc=136&idi=43295

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Google maps (street view)


Ver mapa maior




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2002...

Writer Uber (excertos de uma entrevista de 17 de Janeiro de 2002, no âmbito de realização da tese de licenciatura em Sociologia - "Do outro lado do muro: produção de laço social numa comunidade graffiter" - por Catarina Dias)

Uma fonte de inspiração como artista e, essencialmente, como ser humano…

Motivações
Porque é que eu comecei?... Para me sentir útil, queria mostrar o meu trabalho... a várias pessoas... Queria ser reconhecido pelo meu trabalho e não pela pessoa que sou... Queria expor o meu trabalho, queria que o meu trabalho fosse reconhecido... mas que não me identificassem... a mim, à pessoa (...) epá... útil no sentido de ser útil... de sentir que podia mudar alguma coisa, que eu contribuía, percebes?... Que eu estou presente, estou cá!... Estou a contribuir com o que eu sei fazer de melhor, percebes?... tipo... Eu tenho a capacidade de decorar, de trazer um bocado de alegria! (…)
Eu tentava sempre que tivessem o seu elemento cómico... pá sempre, sempre! A sério!... Pá... é claro que, por exemplo, o meu primeiro graffiti se calhar não tinha esse elemento cómico porque eu ‘tava a almejar uma certa realização... porque é um bocado difícil associares o querer dar alegria às pessoas, com um estatuto de respeito, percebes?... É muito difícil conciliares essas duas coisas... tipo seres um bom entertainer e ao mesmo tempo teres um estatuto porreiro. (…)
Uma das coisas que me levou a fazer graffitis foi a necessidade de intemporalizar a minha pessoa (...) e o graffiti é a forma mais imediata e mais acessível a um jovem de 16 anos de conseguir que isso aconteça.

Graffiti

Dentro da cultura hip hop, o graffiti são os desenhos que estão nas paredes, é uma expressão gráfica de uma juventude oprimida... Pá não sei... eu não sei definir graffiti... pá... são mijinhas de cão, são suspiros de alívio... sei lá! (…)
Eu continuo a achar que o graffiti é a forma de arte mais espontânea e mais verdadeira existente neste momento... porque sinto que a arte, só pela arte, não tem significado, ou seja, fazeres uma pintura para poderes vendê-la numa galeria e meteres na sala de uma pessoa que tem dinheiro p’á comprar e... pronto só p’a decorar um bocado a sala da pessoa... hum... não tem significado, quer dizer, é continuares a ser um escravo, é continuares a ser um executante... e não um pensante.
Por outro lado, há a parte... crime ou reivindicativa que é o lado mais puro e verdadeiro do graffiti... e da arte... que eu acho que é o que tem mais significado. (…)
E as coisas são como são, quer dizer, é espontâneo!... Faz parte da natureza, é como uma planta: a semente cai na terra, chove e a planta cresce... entre o passeio, pronto... o homem pôs lá o passeio, tudo bem, p’ás pessoas passar mas... se cair lá a semente, a planta irá crescer... e... eu acho que o graffiti é um bocado isso! (…)
Eu acho que o graffiti é uma forma espontânea!... se não tivesse sido eu era outro qualquer e é um bocado como a tal flor que nasce entre o passeio, percebes?... E daí o... eu achar que é a arte por excelência!... percebes? É completamente natural, não tem um objectivo concreto de obter o lucro de alguma forma ou o de acomodar a qualquer coisa... é simplesmente querer ficar e ganhar espaço no passeio e, se for preciso, levantar algumas pedras da calçada!... (…)
Porém, pessoalmente, acho que... p’lo menos nesta fase da minha vida... acho que ‘tá a começar um bocado… mesmo a nível nacional e a nível internacional... acho que essa erva, que ‘tá a nascer entre o passeio, deixou de ser uma erva selvagem... porque (...) algumas pessoas que puseram lá o passeio, ‘tá a achar piada à erva... e então ‘tá a meter adubo na erva... Ou seja, apareceram lojas e fomenta-se uma cultura à volta, que não é só espontânea, quer dizer, surgiu logo uma série de situações à volta (...) que desvirtuam um bocado essa essência natural que o graffiti podia ter. Eu acho que neste momento ‘tá completamente desvirtualizado, não... pah já não tem aquela... quer dizer, eu acho que o sonho já se foi... um bocado aquela história... pronto, e daí eu já não acreditar nessa erva. (…)
Talvez um dia encontre esse momento p’a me meter em mais um cantinho, percebes?... E talvez nasça mais uma flor natural, percebes?... Mas prefiro andar um bocado sobre o passeio e fazer parte um bocado da sociedade e... tentar-me construir como uma pessoa que anda de pé no passeio... para depois um dia encontrar a minha fenda no passeio e meter lá a minha ervinha e deixá-la brotar naturalmente…

Legal ou ilegal?
Fui sempre bastante flexível em relação a isso!... Porque o legal e o ilegal p’ra mim tinha a ver com o confronto, de estar a ofender alguém ou não, percebes?... Tipo não me importava que fosse... imagina que era um reservatório d’águas completamente a cair de podre... mesmo que fosse ilegal, eu não tinha problema nenhum em pintar lá!... Mas se fosse uma escola secundária toda novinha e não sei quê e se me pedissem p’ra pintar lá sozinho e não sei quê, se calhar eu não pintava!... Nunca tive uma atitude de contestação só por contestar, tive sempre a atitude... a tal história de tentar embelezar um bocadinho!... Mas o porquê de quando fazia ilegal era... pá era essa história de tentar embelezar, basicamente!... Epá tudo bem... houve umas certas alturas, que são as tais que eu me arrependo, que me deixei influenciar e que tentei manter um certo nome, porque eu dentro do meio era reconhecido como o gajo que fazia os bonequinhos mais cómicos e mais giros e não sei quê tipo tinha um estilo de letras muito arrojadas e era muito bem reconhecido por isso!... tipo ‘ya, ya, ele é muita bom nisso, mas a fazer bombing não é muito bom!’... e eu senti que tinha uma falha na minha personalidade como graffiter, faltava-me essa vertente e então epá um bocado influenciado p’lo meio todo, houve uma altura que fiz um bocado desse tipo de coisas pá mais p’a colmatar essa minha vertente... tipo ‘ya, ya, ele é bom em todos os aspectos, ele é um graffiter completo!’... Isto foi p’aí aos 18!... os THC ‘tavam a acabar e eu comecei a ver que, se calhar p’a ser aceite pelo outro grupo, tinha de ser um graffiter completo p’a ser respeitado e... comecei a fazer assim coisas mais rápidas que... pá se calhar não era uma fotografia tão bonita, mas que ficava ali, ‘teve marcado, ‘ele ‘teve lá, ele é muita bom também a fazer isto!’, percebes?...

Vai haver uma tentativa da sociedade engolir o graffiti?
Vai, completamente!...só que a parte... pronto, como tu podes ver, ‘tá completamente banalizado o graffiti... já se fazem entrevistas a todo o tipo de gente com um graffiti como cenário... já faz parte! O graffiti já é uma coisa totalmente incutida... p’ra bem ou p’ra mal!... Hum...agora, daí a ser bom... percebes?... Ele já é tipo aceite, percebes?... Já faz parte!... As pessoas já sabem que há uma cidade, há graffitis. Já não é tipo ‘ai que horror! Que é isto? Que cidade é esta toda escrita?’... Quer dizer, isso já não existe, todas as cidades têm graffiti e faz parte mesmo... Agora daí a ser aceite... do género ‘ ai que bonito, esta cidade tem graffiti!’... Duvido, percebes?... Aí duvido bastante!... Quer dizer, há uma aceitação do facto que há graffitis... porque as pessoas já deixaram de acreditar em cidades que não tenham graffitis... mas há uma aceitação de uma situação desagradável... protagonizada por essas mesmas pessoas, quer dizer... se calhar não foram elas que fizeram, mas foram os filhos ou os amigos dos filhos ou... se calhar um bocado derivado delas ‘tarem a trabalhar em vez de ‘tarem a dar atenção aos filhos delas, não é?... ...

Futuro do graffiti
Acho que o graffiti nunca vai ser aceite e isso é ponto assente!... p’lo menos a vertente mais selvagem, mais real do graffiti nunca vai ser aceite porque há-de ser sempre contestação, há-de ser sempre ir contra o que é aceite (...)... Se essas partes não são aceites, quer dizer que ‘tão a conseguir cumprir o seu objectivo p’a não ser aceites e ‘tão a conseguir marcar a sua posição, ‘tão a interferir, ‘tão a molestar... um monstro enorme que é a sociedade... que é o que é! (…)
Concretamente em relação ao graffiti, eu acho que sim... que vai continuar a existir... principalmente em certos ambientes, em certas zonas e... cada vez mais tendo p’ra ser do centro das metrópoles para a periferia (...) principalmente na Europa, as cidades ‘tão em decomposição... de dentro para fora... e um dos sinais dessa decomposição é o graffiti, definitivamente! (…)
O graffiti já é uma coisa totalmente incutida... p’ra bem ou p’ra mal!... hum... agora, daí a ser bom... percebes?... ele já é tipo aceite, percebes?... já faz parte!... (…)
Todas as cidades têm graffiti e faz parte mesmo (...) Se calhar as pessoas não gostam, mas eles têm de estar lá porque as pessoas... não mudam as coisas por eles ‘tarem lá, não ‘tão a fazer nada em relação a isso... o graffiti não ‘tá a conseguir mudar a sociedade, mas não é a sociedade que também vai conseguir mudar o graffiti porque... a sociedade só consegue mudar o graffiti, se a própria sociedade mudar!!!

Por Catarina Dias